Usina termelétrica no Rio Melchior é “inviável”, diz analista do Ibama
Analista ambiental do Ibama participou de sessão da I na CLDF e disse que vazão do rio é insuficiente para ar instalação de usina
atualizado
Compartilhar notícia

Deputados distritais que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito (I) do Rio Melchior na Câmara Legislativa (CLDF) receberam, nesta quinta-feira (12/6), um analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O especialista falou sobre o projeto de instalação de uma usina termelétrica a 500 metros do Rio Melchior, em Samambaia, e declarou que uma obra desse tipo é inviável na área, devido à vazão insuficiente do afluente.
Veja imagens da área:
O analista do Ibama Breno Bispo declarou que a quantidade de água que flui no Rio Melchior não é o bastante para ar a instalação de uma usina termoelétrica.
O projeto de construção da usina prevê a captação da água do rio para que a termelétrica funcione. Na última terça-feira (10/6), porém, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) suspendeu a autorização existente para isso.
“Se, tecnicamente, a região não tem capacidade de resfriamento, o empreendimento é inviável”, resumiu Breno Bispo, ao ser questionado sobre a decisão da Justiça.
Lençóis freáticos sob risco
Uma adutora ligada à usina pretende captar um volume de 110 milímetros por hora de água no Rio Melchior. Após usá-la, a indústria devolveriam 104 m³/h ao curso hídrico.
Estiveram na sessão a presidente do colegiado, deputada Paula Belmonte (Cidadania), o relator Iolando (MDB) e o deputado Gabriel Magno (PT), que também faz parte da I.
Questionado por Paula Belmonte sobre o fato de o rio ser “altamente poluído” e de a termelétrica usar dessa água, o analista respondeu que o consumo hídrico não seria sequer suficiente para esfriar a caldeira da usina “em determinadas épocas do ano”.
Diante disso, seria necessário perfurar ao menos quatro poços para aproveitar a água dos lençóis freáticos da região – procedimento que também gera riscos ambientais.
O deputado Gabriel Magno ainda apresentou dados de um estudo ambiental elaborado para tratar da construção da usina. O documento elenca 24 fatores negativos contra apenas quatro positivos para a instalação.
O parlamentar ressaltou, ainda, que a usina deve emitir quatro vezes mais dióxido de carbono (CO2) do que os poluentes lançados na atmosfera pela frota de ônibus de toda a cidade de São Paulo (SP) em 2003.
“O DF precisa dessa geração de energia elétrica para arriscar as várias questões colocadas? O que são 80 empregos, em 15 anos [tempo de funcionamento da usina], em que nem se garante que a população local será beneficiada por isso?”, questionou Gabriel Magno.
Saiba mais sobre a estrutura da usina a ser construída
- Como mostrou o Metrópoles em março último, a viabilidade da usina é decorrente de “jabutis” incluídos na lei que privatizou a Eletrobras. O artigo 20º do texto diz que capitais do Centro-Oeste que não tenham pontos de suprimento de gás natural em a gerar 2,5 megawatts de energia com uso desse combustível.
- Como Brasília (DF) e Goiânia (GO) não têm abastecimento nesse modelo, a lei garante a instalação de termelétricas nas duas cidades.
- A usina de Samambaia prevê a geração de 1.470 megawatts de energia – 29 vezes mais do valor outorgado hoje pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ao Distrito Federal, segundo dados abertos da autarquia reguladora.
- Essa energia entraria para o Sistema Interligado Nacional (SIN) para abastecer o país e representaria uma mudança na matriz energética do DF – que, atualmente, tem como principal fonte de abastecimento as hidrelétricas de Furnas e Itaipu.
- Se construída, a termelétrica terá três turbinas a gás, três caldeiras de recuperação e uma turbina a vapor. A energia gerada ligará a usina à subestação de Samambaia por uma linha de transmissão de 6,29 quilômetros.
Na próxima reunião da I, agendada para 26 de junho, às 10h, serão ouvidos o presidente da Ambientare, Felipe Lavorato, e os superintendentes da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) Helia Dania Silva dos Santos, de resíduos sólidos, gás e energia; Gustavo Antonio Carneiro (recursos hídricos); e Rafael Machado Mello (abastecimento de água e esgoto).
Em 7 de agosto, os deputados vão visitar um abatedouro de aves no Km 25 da DF-180, que também despeja resíduos no Rio Melchior.
Nota de Esclarecimento
A UTE Brasília informa que o processo de licenciamento ambiental segue dentro dos prazos e os critérios definidos pelo Ibama. A empresa ressalta que o projeto é viável e trará benefícios para as comunidades locais e para o próprio Rio Melchior. Importante destacar que a análise técnica do órgão federal ainda não foi concluída e o parecer final sobre a viabilidade do empreendimento será emitido somente após a conclusão dos estudos, prevista para os próximos meses.
A UTE Brasília também reforça que está avaliando as medidas cabíveis para reverter a decisão liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que suspendeu temporariamente a autorização para a captação de água do Rio Melchior.
Importante ressaltar que a captação de água prevista é muito pequena: 110 mil litros por hora, sendo que 95% desse volume será devolvido ao rio, após tratamento, em condições ainda melhores do que foi captado. Com isso, o consumo real da usina será de apenas 6 mil litros por hora — o equivalente a menos de 1% da água que o Rio Melchior tem disponível para uso, segundo os critérios dos órgãos ambientais. Além disso, a UTE Brasília utilizará sistema de resfriamento a ar (ACC), eliminando a necessidade de grandes volumes de água para essa finalidade e assegurando uma redução da ordem de 90% de água a ser captada. Importante salientar que todo o projeto da usina está ancorado em princípios de sustentabilidade e segurança ambiental. Ademais, o projeto da UTE Brasília viabilizará a chegada do gás natural ao DF, possibilitando o uso deste insumo no lugar de combustíveis fósseis mais poluentes em setores tais como indústria, comércio e transportes, reduzindo, dessa forma, a emissão de GEE no DF.